terça-feira, fevereiro 28, 2006

Mardi gras

Será que eu ainda sei o que é Carnaval? Pelo segundo ano consecutivo, vejo-me privado do Carnaval junto dos meus amigos mais foliões. No ano passado um exame marcado para depois do Carnaval (que crime!), obrigou-me a ficar em Lisboa a estudar e tive de me contentar a ver o Carnaval do Rio de Janeiro no GNT.
Este ano que não tenho exames para fazer, encontro-me aqui na Lavandaria self-service da Cité U à espera que o “sechoir” acabe de secar uma máquina de roupa… São tempos difíceis para um Louletano, que está habituado a festejos de Carnaval desde tenra idade. Mais um ano sem festa do pijama no Black Jack, concurso de máscaras no Baile do Parragil, rebuçados e ovos podres na avenida principal de Loulé ouvindo a mesma K7 de músicas de Carnaval ano após ano… (Os louletanos que lerem isto sabem ao que me refiro: Brijite Bardot Bardot… Ehhh, meu amigo Charlie! Charlie Brown!... Você pensa que cachaça é água…Êh ôh ôh ôh Mustafa!). E a noite de segunda-feira na Kadoc! Tudo mascarado a bombar! E encontrar gente que não vemos desde tempos do Liceu, ou desde o último Carnaval.
Neste “Mardi Gras” (esta gente liga tanto a isto, que hoje é mesmo terça-feira gorda, não há cá Entrudos nem Carnavais…), só vi uma pessoa mascarada à porta da cantina. Dado o enquadramento, uma figura bem ridícula fazia, era de certeza uma praxe ou coisa parecida. E hoje não é só este “mardi” que está gordo, constatei que devo ter engordado uns 5 kg no mínimo desde que cheguei a esta cidade. É que a comida do Resto U pode ser estranha, mas vem em quantidade e cheia de queijos e molhos. E a dose de paparoca do almoço repete-se ao jantar, uma vez que não estou para cozinhar na cozinha comum da residência… E quem me conhece sabe que com fome ou sem fome, prato mal ou bem cheio, sou incapaz de deixar uma migalha de sobra! Agora é tentar o impossível: comer devagar e apenas o suficiente (estão a ver-me a fazer isso não estão!?).

Chez les amis

O ponche marado que bebi na festa de arquitectura ainda acordou comigo na manhã de sexta-feira, mas nada que não tivesse passado com um belo duche no balneário comum, que continua muito pouco partilhado…
Aparentemente bem despertado, ainda consegui terminar a minha mala de fim-de-semana e apanhar o tramway para a gare com tempo para tomar um café tão essencial nestas manhãs difíceis.
10:06 o comboio “Corrail Teoz” com destino a Nice e paragem em Marselha chega e sai de Montpellier pontualmente. Entro no comboio e vejo toda gente encasacada. «Passaram-se, então isto supostamente é “climatisé”». Pois é, mas realmente estava um frio horrível no comboio, eu que o diga, igualmente encasacado no meu lugar junto à janela e à saída de ar frio vi os meus planos de dormir na viajem a “irem por água abaixo”. Mas ao menos a viagem foi bem rápida, e chegado à Gare “Marseille Saint-Charles” já tinha à minha espera o amigo de família Henri Rosa que encontrei mal saí do comboio.
Soube bem ser tratado como um filho durante o fim-de-semana, a comer comidinha caseira (sem merlu!), passear calmamente e dormir com uma almofada convencional.
Ficam aqui algumas fotos de Aix-en-Provence, Martigues a “Veneza provençal”, e da Côte bleue junto à Marina de Carry le Rouet.

Architecure

Peço desculpa a quem sentiu falta destas minhas divagações, realmente já faz uma semana desde que “postei” o último texto pharmagilsense! A verdade é que a sala de informática da Citè U onde habito, tem estado fora de serviço e de 6ª-feira a domingo estive fora de Montpellier longe do meu portátil by LIDL onde redijo estas lindas crónicas.
Depois das festas “privées”, foi a vez de um primeiro contacto com uma festa universitária. Saiu-me na rifa uma festa na faculdade de arquitectura, que fica no fim do mundo como se diz por cá. Para meu alívio, pude falar em português grande parte da noite, graças à companhia de uma erasmus portuguesa de direito e de um espanhol que fala igualmente português! Ok, eu explico… o espanhol é da Galiza, não é como os meus colegas de estágio que falam castelhano e catalão todo o dia.
Quando cheguei nem pude acreditar no que via… “Bierre” a 1,50 Eur!? Sim, estava a ver bem, cerveja a preço normal! O pior foi quando me dirigi ao balcão para pedir uma: cerveja de lata a ser despejada em copos de plástico, e não ficando por aqui, a dita cerveja vinha a uma temperatura muito amena e com pouco gás… A típica cerveja mijo de burro que em Portugal não a beberia, exceptuando possíveis estados de alcoolémia muito avançados. Mas bebeu-se, e soube-me muito bem! É assim: depois de um mês a ver cerveja a 4,50 Eur, vocês meus caros amigos amantes de jola, também iriam adorar a cervejinha mijo de burro a 1,50 Eur.
A música, também assim diferente do que estou habituado nas saídas à noite, mas soube bem poder ouvir Beastie boys, Fatboy slim e Groove Armada. Coisa que os fãs da Shakira amigos dos meus colegas de estágio não apreciam, mas que os janados de direito e arquitectura que conheci nessa noite adoram.
O meu relógio marcava meia-noite e pouco, quando surge a notícia que a cerveja tinha acabado! Bem… é certo que a cerveja não era lá “grande espingarda”, mas em Portugal a cerveja numa festa universitária não acaba tão cedo (Acho que nem no famoso magusto dos 3 barris de cerveja encomendados pelo Fuzeta, a dita acabou tão cedo…). Restava um vinho tinto de pacote, ou uma coisa amarela que diziam ser ponche. Venha lá o ponche! Eu que tinha um comboio para Marselha no dia seguinte faço com cada uma… só sei que o caminho da faculdade à cite U, não foi o suficiente para queimar o álcool fornecido por tal bebida!

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Goooloooo…

Pois ontem o glorioso, que tão poucas alegrias nos tem dado nos últimos dias, jogou na “champions league”, e eu andei desesperado à procura de um cafezinho português para poder ver o jogo “o mais em casa possível”. Mas não, em Montpellier só há Kebabs de árabes abertos toda a noite, não há um café português onde se possa comer um pastel de bacalhau com uma mini sagres, e claro ver o Benfica!

Hoje ao tomar uma bica (horrível para o preço que foi) com uma portuguesa que conheci na festa de mascaras dos italianos, descobri que está cá outro amigo luso na faculdade de letras que fanático pelo Benfica também tem andado à procura de um lugar para ver o jogo. Na esperança que ele tenha tido mais sorte que eu, enviei um sms para saber se ele sempre tinha encontrado esse lugar raro para ver o jogo. Mais uma vez, não! Também não encontrou nenhum lugar e ficou ligado à net para ouvir o relato numa rádio portuguesa.

A hora do jogo aproximava-se e pensei: “Vamos embora para um pub irlandês onde passa futebol! Pode ser que no fim do jogo que lá esteja a passar eu passe um resumo do Benfica vs Liverpool”.

E assim lá fui eu para o centro histórico de Montpellier, para o famoso pub FritzPatricks tentar a minha sorte. Ao abrir a porta do pub deparei-me com uma multidão a beber cerveja e a olhar para as várias televisões distribuídas em cada canto. Não percebia que jogo estava a passar em cada ecrã, mas reparei que eram jogos diferentes. Ao meu lado um francês falou em Liverpool: “En quel télé est le Liverpool!?”, a resposta a minha pergunta apontava para o fundo do pub, depois de uma multidão de adeptos não sei de que clube, para uma sala onde estava meia dúzia de bifes a beber “lagers” bem grandes não muito entusiasmados com o jogo, e claro, todos do Liverpool…

Depois de atravessar um pub cheio que nem um ovo, ainda cheguei a tempo de ver o início da 2ª parte do jogo, e roer as unhas de todos os dedos, por estar a conter todos os meus berros e palavrões normalmente emitidos nestas situações… e claro nem pensei em pedir uma cerveja para me aclamar (6.00 Eur ou então aquela de 3,40Eur que só traz um mijinha…). Tive de deslocar para um cantinho escuro para poder unir as mãos, roer as unhas, esbracejar, morder os dedos (dolorosamente em silêncio) sem dar muito nas vistas. A porcaria do jogo, ainda por cima resumia-se a ataques do Benfica não concretizados, mesmo a pedir um par um berros à Algarvia… Luisão marca e golo e não aguentei: “GOOOOOLO000ooo…Sozinho, de braços no ar soltei toda fúria que tinha em mim, mas num degradê sonoro decrescente à medida que toda a gente olhava para mim. Um puto bêbado ainda me perguntou num sotaque muito british “You are for Benfica, or we’ve drinked too much?”. Duuhhh! Com a figura que eu fiz havia de ser do quê? Do Chelsea? A resposta claro que foi “both things”.

O jogo acabou, eu bati palmas e saí imediatamente para rua para apanhar uma chuvinha daquela tipo “molha parvos”. Os meus dias têm sempre de acabar com algo nada normal. Pois vejam, enquanto esperava o tram fui interrompido por uma frase muito estranha: “Sorry… I’m desolé … ham… parlez vous anglaish?”. O sotaque não enganou, dois americanos que a chuva obviamente molhou muito mais, a procurar um bar australiano onde os estudantes dos states “hang out”. Não lhes soube ajudar, mas enviei os americanos bêbados que nem uma porta para um cybercafé, podia ser que a Internet lhes ajudasse. “Oh my God! Why we haven’t thought about that!! You’re a genius man! Thanks a lot Luigee!”

sábado, fevereiro 18, 2006

A vida na France não é “comáqui”! Han!

No meu caso diria, não é como aí… Nem sabem como os emigrantes tugas de France têm 100% razão ao dizer tão célebre frase.
Ontem, como não fui ao sítio habitual da “pinte” a 2,50Eur, fui mais uma vez delicadamente assaltado ao pagar 4,50 Eur por uma cervejola em botelha. E pior é que voltando ao sítio habitual da cerveja barata, deparo-me igualmente com uma conta de 4,50 Eur… Parece que ao fim de semana essa promoção tão boa não está em vigor. Estou cá a ver que tenho de arranjar um stock de jolas para fazer “botellon” ao “weekend”, porque cerveja a este preço não lembra a ninguém!
Hoje, fui almoçar à cantina (ou “restô U” à francesa), e claro que como já fui um pouco tarde a carninha já tinha acabado (poulet à la basquaise). Adivinhem o que almocei… MERLU! A dita pescada que as cantinas de cá devem comprar com uma bonificação de 200%. E não era um merlu qualquer: merlu au sauce tartare! Quando a mulher emborca uma concha daquele molho por cima do peixe e das batatas pensei: “hoje vais ter de ir ao kebab do turco para almoçares”.
Enfardei-me de salada, que como é self-service é o que nos livra, dá para “acagular” o pratinho a que temos direito até altura que formos capazes. Por fim o filete de pescada cosido com molho até nem soube muito mal… Acabei de almoçar, e a bela sensação de enjoo típica dos molhos aparece: “preciso de um café!”.
O café da cafetaria da cantina mesmo sendo uma “bodega”, sempre dá para o gasto e acima de tudo é barato e não é dos da máquina que se põe a moedinha. Mas eis que não… ao sábado não há cafetaria que te “lixas”!
Bem… como tinha de ir ao centro, aproveitei e fui logo, assim sempre tomava um café e uma Perrier (bem boa!). Sentei-me numa esplanada e desfrutei do sol maravilhoso que tem brilhado nos céus do Languedoc. O café até estava próximo do português, e a Perrier óptima como sempre. O anormal do empregado de mesa é que me estragou o “aprés-midi”, com os 4,20Eur de conta!
Fui dar mais uma voltinha para esquecer o preço do café e da perrier… Deu para descobrir umas ruelas com coisas “muito à frente”, e finalmente consegui entrar na Opera Comedie (o ex-libris de Montpellier), para sacar um programa dos espectáculos. Quando saí da ópera pela porta principal para a praça da Comedie, dou comigo numa espécie de palco improvisado de uma manif dos árabes contra a discriminação, os cartoons e aquelas coisas todas… “Desculpem qualquer coisinha, mas não era suposto eu estar aqui”. A minha saída não foi discreta… tudo à minha frente a manifestar-se e eu a tentar sair do meio dos líderes árabes de Montpellier!
Ao menos descobri um lugar de nome “Louis” (nome giro sim Sr.), que tem crepes para ir comendo na rua a 1Eur. “Eh lá! Vou já comer uma crepe não vá a promoção acabar! Didon, a vida na França não é como lá em Portugal!”

Chez moi!

Pois é malta, já tenho os cabos para sacar as fotos da maquina!
As primeiras imagens que disponibilizo são do meu lar...
A primeira foto é o edificio central da Cité Universitaire Boutonnet (secretria e coisas dessas), depois já mais 6 blocos de quartos que ás avrores não deixam ver.
Este é o meu buraco, que acham? Chambre renové com lavatoire e mini-frigo! Segundo a descrição de outras residências, digo-vos já que não está nada mau.
Reparem que até tenho um interfone! Pena ser tão super irritante. Quando toca emite um ruido super agudo que só para quando se atende. O Lavatório uma peça essencial, principalmente para os estes franceses que raramente usam o duche (duche que é comum, mas pareçe que tenho a quase exclusividade do mesmo), que assim podem fazer a sua "higiene ligeira" sem ter de sair do quarto. O que para mim é optimo: o duche raramente esta ocupado e é mesmo na porta em frente do meu quarto.
O pior tem sido dormir com aquela almofada em forma de salsicha... Esta gente diz-se tão avançada e usa almofadas destas!?

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

A marcar pontos!

Embora pouco ou nada tenha para fazer aqui no CHU Montpellier, devo-vos dizer que acabei de marcar mais uns pontos face aos outros estudantes que por aqui andam!
Hoje foi dia de apresentações de trabalhos e casos clinicos por parte dos estagiarios franceses, e nos os Erasmus somos "obrigados" a assistir...
Pois bem, um estagiario apresentou um caso clinico acerca de antibioprofilaxia em cirurgia e atrapalhou-se um pouco. A implacavel Hansel começa a metralhar: "n'est pas comme ça" e tal... Não sei o que me deu, mas em vez de tentar passar despercebido olhei para a Mme Hansel (Sra. professora directora pharmaciene...) ao mesmo tempo que ela volta a frente de ataque para territorio internacional: "comment vous faites ça à Lisbonne?"
Zàas, toma là morangos, falei e falei bem. Que alivio... A frente de ataque volta-se para a Catalunha e Valência com a mesma pergunta, e... encolher de ombros colectivo.
Mme Hansel depois de dar uma descasca aos francius, porque ela propria lhes tinha dado a materia na faculdade diz o seguinte: "Vous êtes forts à Lisbonne!"
Mas esta gente pensa que esta a lidar com parvinhos? Eles nem imaginam a "espécie" que é o Farmacêutico português! Me aguardem, isto ainda é sò o começo... Ah!Ah!Ah!

PS - Texto escrito no hospital com o teclado de me*** dos franceses, por isso os acentos estão um pouco trocados. Desculpem o "Ah!Ah!Ah!" final, mas hoje sinto-me ainda "mais grande" que o normal.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Merlu?

Pois é meus amigos, tenho andado a comer coisas muito estranhas nestas cantinas do Montpellier de France. Há um peixe que teima em aparecer nos menus diários, que tem nome estranhíssimo: Merlu.
Não vos diz nada pois não? A mim também, mesmo tendo gramado postas de tal espécie confeccionadas no forno com uns molhos brancos à mistura. Saber mal, não sabe mas também não lá grande pitéu, enfim come-se…
Hoje cheguei à cantina da faculdade de “odontologia” (onde estuda uma espanhola completamente louca, que hoje deixou cair uma dentadura acabadinha de fazer no chão), e no menu lá estava o amigo merlu mais uma vez. Eis que perguntei à espanholada se eles sabiam o que era o dito peixe, e no meio de tantas palavras em espanhol parecidas com merlu e algumas achegas de uma francesa que ouvia a conversa, fiquei na mesma… Até que o meu colega “Raimond” (Raimundo, Raimon, sei lá…) se saltou com “pescadilha”, um termo utilizado em Valência para o dito merlu mais pequeno. Tcham nam! Fez-se luz! Então “pescadilha”, lembra “pescadinha de rabo na boca”! Pescadinha grande é a Pescada! Será que andei a comer pescada no forno este tempo todo?
Prova dos 9, ver no dicionário o que significa Merlu. Bem que o dicionário já vem do tempo que em que a minha mãe estudava na Escola Industrial de Loulé, mas quer dizer haveria de ter o dito merlu na parte francês-português. A pescada é coisa mais banal do mundo!
Mas não… nem merlu, nem merlão! Plano B: ver na parte português-françês, “pescada”. O resultado foi merlan! Até é parecido, mas não é merlu!
Agora vem a parte da interpretação:
- Eu ando já a dar em parvo com a comida da cantina e já nem atino na leitura dos menus e tem lá estado sempre escrito merlan e não merlu?
- Merlu será simplesmente a tal especialidade de merlan no forno com a bodega do molho branco?
- O dicionário LAROUSSE dos anos 60 não tem os termos culinários utilizados neste novo século actualizados?
Podem ir dando palpites…

P.S. – Hoje o jantar foi ravioli! Yuupi!

domingo, fevereiro 12, 2006

Carnaval antecipado

Os dias vão passando, e vou sempre sentindo falta de uma coisa ou outra que poderia ter trazido comigo ou não… Sim porque ninguém se lembra de trazer um esfregona ou um balde quando vai de viagem. Foi assim que, mais uma vez guiado pelos meus novos amigos espanhóis, fui ao IKEA num sábado à tarde. Os IKEAs são todos muito parecidos uns com os outros, e o de Montpellier quase que rivaliza com o de Lisboa ao nível da quantidade de gente que põe lá dentro a passear com criancinhas a uma velocidade estupidamente lenta. O desatino para quem vai lá já a saber o que quer! Sem deixar de referir os “mira que bonito! Yo lo quiero!” das espanholas que têm uma grande tendência para comprar coisas inúteis. Pois bem, como resultado de tal “promenade” fiquei equipado com um pratinho, um kit de talheres, (que segundo as espanholas era escusado comprar porque dava para “gamar” na cantina) uma caneca, um tachinho uns panos de cozinha… Enfim dá sempre jeito, mesmo que a minha cozinha seja comum, uma vez que estou muito próximo de enjoar a comida da cantina.

Depois de me ter escandalizado com os preços de um Pub irlandês (6 Eur por uma imperial, ou 3,60 Eur por uma em copo pequeno que traz só um “niquinho” de cerveja…), ontem foi a vez de ir a uma festa “caseira” em casa de uns italianos que decidiram fazer uma festa de disfarces. Eu bem perguntei se não seria má onda de lá aparecer sem conhecer os donos da casa e sem máscara… Mas segundo os espanhóis estes italianos querem é ter gente em casa e que recebem todos com um “bienvenue” em sotaque italiano.

Disfarçado de tuga, e artilhado com um Martini compareci na tal festa de Carnaval antecipado. Os meus amigos espanhóis lá improvisaram uma máscara de pirata, enquanto as catalãs (sempre à nora como de costume) acompanhavam-me no grupo de não mascarados. Chegados ao apartamento dos italianos, que fica numa rua não muito longe do centro, num último andar de um prédio do calibre “Rua da Madalena”, a festa já tinha começado. Os anfitriões vestidos de mulher das limpezas, equipados com balde e esfregona lá nos receberam com o tal “bienvenue”. O apartamento estava equipado para a festa com um soalho de cartão descartável e um bengaleiro improvisado, e mesmo não sendo muito grande suportou a toda a gente que entrava continuamente na festa. No meio de tanta gente: duas portuguesas! Que alívio foi poder falar numa língua em que somos fluentes.

A festa deu também para constatar que se fala muito melhor francês com uns copitos em cima. Falei, falei, falei… nem lembro ao certo que baboseiras andei por lá a dizer! Depois disto tudo só tive pena de não ter acordado a tempo de dar um saltinho ao “Maché aux puces” (feira da ladra cá do sítio), para comprar algum utensílio doméstico que ainda me faça falta.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Une Pinte!

Fazendo o balanço de uma semana de estágio, consigo apenas contabilizar uma manhã de “estágio real”, uma manhã em que estive com os técnicos responsáveis pela gestão das existências em armazém. Reparei que pouco irei ter de fazer durante este estágio… Como a big boss da farmácia teve a feliz ideia de me por a estagiar a tempo inteiro, estão a ver a grande seca que vou gramar no Hospital Lapeyronie (adoro este nome, até tem um “y”!).

O dia de ontem foi particularmente agitado. O meu colega Erasmus de Valência (de nome Raimond, ou Raimon ainda não percebi muito bem…em português é bem capaz de ser Raimundo!) finalmente apareceu, foi o que me valeu, pois sempre tinha aluguem para me acompanhar no “faire rien”. A manhã foi passada entre bolos, chá e sumo de laranja no “bureau” dos ensaios clínicos a falar com pessoal que pouco mais faz que o “je”. Quer dizer, de vez em quando lembram-se e começam a fazer umas coisas no computador, depois para falar… Função pública: condições diferentes mas sempre a “mesma maneira de estar”.

Desta vez eu e o Raimond fomos almoçar à cantina da fac. de odontologia, onde lá estavam outras espanholas. Foi uma peixeirada à mesa! Imaginem um grupo de 4 raparigas a falar alto, e claro, a falar mal de outras espanholas que estão em Montpellier: “Mas que cabrona”, “es una Gorrona”… (Não sabem o que é gorrona, pois não? Tem o significado próximo da nossa expressão “mão de vaca”. O que eu me tenho rido com esta expressão!)

As amigas espanholas deram-nos uma informação preciosa: localização do LIDL! Arret du tram St. Eloi + Bus la Ronde. Lá fui eu com o meu super saco azul do IKEA (das melhores coisas que trouxe para aqui), comprar bens essenciais como leite e água. O pior foi trazer 6 pacotes de leite mais 8 lt de água para o “bus” e para o “tram”. O super saco do IKEA, não só teve capacidade para o volume de carga, como não se rompeu pelo caminho. O “Raimundo”, que é metade da minha pessoa, tinha de parar de 10 em 10 m para descansar com os seus 4 ou 5 sacos de compras. Estão a imaginar as figurinhas… eu então com o mega saco de vendedor ambulante, onde se podia espreitar um rolo de cozinha e um sumo de laranja “solevita”.

O que valeu foi a noite, onde já pude beber umas valentes cervejas. Meti-me mais uma vez numa festa da Espanholada… Conheci as Erasmus de Barcelona da outra farmácia hospitalar de Montpellier, que estão cá há mais de 3 meses e continuam a falar um francês muito fraquinho. Vejam só que ainda recorrem à técnica de afrancesar o espanhol/catalão para se fazerem entender. Eu entendo perfeitamente, mas os franceses nem sempre. Mas todos sabem pedir uma imperial barata em copo grande: Une Pinte! (confesso que ainda não atinei com a pronunciação desta palavra tão fundamental).

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Crepes com Chocolate!

Este título teria dado um nome muito mais interessante ao meu blog, assim quando chegasse a Portugal mandava isto para a RTP ou para a SIC e com sorte ainda me compravam os direitos das minhas aventuras e faziam uma série com o mesmo nome: Crepes com Chocolate vs Morangos com açúcar!
Desculpem mas hoje estou mesmo para escrever destas foleirices! É o resultado de uma overdose de gente e conversação depois de um fim-de-semana deprimente a vaguear sozinho pela cidade. E isto porque finalmente comecei o estágio no Hospital Lapeyronie!
Mme Hansel é a directora dos serviços farmacêuticos do Hospital: cabelos louros meio grisalhos, com corte estilo Mireille Matieu (Beatriz Costa também se adapta), batom vermelho berrante, rímel em excesso, idade a rondar os 60 anos. Para mal dos meus pecados, ela diz guardar um bom “souvenir” das duas últimas estudantes Portuguesas que recebeu no Hospital, ou seja, segundo ela a fasquia está muito alta e ela não quer mudar a opinião acerca dos estudantes portugueses (Obrigadinho MIR e Barata por serem tão empreendedoras)!
Vou ter companhia de um outro Erasmus, um espanhol vindo de Valência que não avisou a tramada Mme Hansel que vinha para o Hospital estagiar, nem trouxe um plano de estágio! Nisso já marquei pontos, ainda não foi desta que fiquei atrás do bom “souvenir” português da Mme.
Almocei no Hospital com dois estagiários da Faculdade, e verifiquei que o meu francês é suficiente para manter uma conversa, com muitas hesitações, mas deu para levar um elogio. Ao que parece têm lá Erasmus de Barcelona que não falam “um boi”! Cá está mais uma prova do tão famoso desenrascanço português. Ah, a conversa também passou pela grande antipatia que todos têm pela Mme Hansel, a professora mais odiada da faculdade (onde me vim meter)!
À tarde como ainda não tinham nada para eu fazer, mandaram-me embora, já que o desgraçado do valenciano também não pôde ficar porque foi tratar do alojamento (aqui o super Erasmus já têm tudo tratado!
Aproveitei e passei pelo centro para tentar comprar umas coitas que tenho falta aqui no meu palácio, e muito mais animado terminei a tarde a comer um maravilhoso crepe com chocolate na Place de la Comedie.

Je vais arriver a Portugal completement gonflé á cause des choses que je mange ici*
*Isto deve ter uns erros pelo meio, desenrasco-me a falar, não a escrever! Tá bém!?

domingo, fevereiro 05, 2006

Os dias burocráticos continuam…

Arranjar um quarto com uma caminha que se pudesse roçar a definição de “lar”, demorou menos tempo do que pensava! Nunca pensei divagar sobre este assunto, mas citando uma amiga minha, verifiquei o que é a necessidade de “arranjar um lugarzinho onde pudéssemos por um vaso com uma flor e dizer: feels like home” (Meus amigos não se preocupem, tenho andado um pouco só, mas ainda não cheguei ao ponto de comprar uma flor para me fazer companhia e ouvir os meus desabafos).
Assim fiquei com dois dias úteis para tratar de outros assuntos interesantes como tirar o passe, tratar de um subsidio de alojamento, abrir conta no banco, voltar à faculdade para lhes dar a minha morada, etc…
Na faculdade, consegui falar com a tão procurada Mme Goldman do gabinete de relações internacionais! Uma personagem sem dúvida interessante, com um ar completamente alucinado, e adepta de uma moda vagabundo chic aos 50 anos: “Ahhhh! Vous etes Mr Casanova!”. Estranha de aspecto, mas muito simpática e prestável.
A residência ficou com o resto das fotos tipo passe que trouxe de Portugal, e para tirar o passe tive de tirar umas fotos rápidas na já minha conhecida estação de comboios (pois já tinha estado em Montpellier, mas só para trocar de comboio no interrail). Consegui tirar 4 exemplares de fotos em que mais pareço o sósia do Frankenstein! Umas olheiras que me davam pela cintura e um sorriso completamente torcido, e ainda por cima paguei 4 Eur para as ter!
Cheguei ao quiosque do passe e o que acontece: a Sra faz um scan da foto! Então porque me pediu uma foto, não podia ter digitalizado de outro cartão! Assim que puder, coloco tais belos retratos online.
Conheci também a CAF, uma divisão da segurança social que atribui subsídios de alojamento para que não tem casa própria. São tão generosos que até a pessoas estrangeiras na minha situação eles dão qualquer coisa. Todo o Euro é bem vindo!
A conta do banco foi só aberta no dia segiunte, pois foi necessário marcar um “rendez-vous”. Tão lindo, até já tenho conta num banco da França!
O pior disto tudo tem sido a minha não capacidade de entrar num bar sozinho e beber um copo… nunca pensei que fosse algo difícil para mim. Beber um café numa esplanada, tudo bem, mas uma cerveja à noite num pub não consigo! Já pensei em ir a um supermercado e comprar uma garrafa de whisky para beber no quarto e poder sair á noite mais desinibido.
Amanhã vou finalmente começar o meu estágio no Hospital. Já passei por lá, e gostei do aspecto. Um edifico relativamente recente com um ambiente muito diferente do que estamos habituados com os nossos hospitais públicos, principalmente do Hospital distrital de Faro!
Au revoir!

sábado, fevereiro 04, 2006

A maratona dos gabinetes e repartições!

Bem me tinham avisado que os primeiros dias não seriam fáceis… A pousada da juventude realmente não é das melhores que conheci, mas sempre tinha uns cacifos para guardar os malões e eu poder iniciar a minha busca de alojamento.
Comigo levei o portátil (ele já tem sofrido tanto, que achei melhor levá-lo comigo, não fosse acontecer alguma desgraça!) e o dossier com toda a papelada desde documentos a entregar na faculdade a moradas e anúncios de casas que tirei da net.
Os dias em Montpellier têm-se revelado muito solarengos, o que não os impede se serem frios e aquela manhã não foi a excepção! A ânsia de resolver todos os assuntos fez-me chegar aos serviços sociais da Universidade (CROUS) antes das 9:00 e ainda tive de aguardar um pouco na cafetaria da cantina que tinha “chaufage”.
Quando o relógio marcou as ditas 9:00, fui atendido no CROUS:
“Ah! Você não é francês. Para alojamento tem de se dirigir ao nosso gabinete internacional que abre ás 13:00.”
Boa! Tinha eu dormido tão pouco e tão mal para isto? Tinha programado ir à faculdade só no dia seguinte, mas assim tinha de aproveitar a manhã para qualquer coisa e decidi tentar minha sorte por lá.
Tinha a indicação de me dirigir à Mme. Eva Goldman das rel. internacionais ou ao Prof. Michel Larroque. Na porta do gabinete da Mme Goldman estava a indicação que o gabinete funcionava todos os dias menos “Mercredi”, e por acaso até era 4ª-feira… Fui então ter com o Prof. Larroque, que não sabia o que fazer comigo, e que ficou em meio em pânico ao saber que ainda não tinha casa. Fui então atirado para a secretaria com um mapa da net que ele me imprimiu e onde assinalou uns lugares para eu procurar anúncios de quartos.
As secretarias são sempre a tal base… juntando a elas programas informáticos com bugs malucos: “Bienvenue aux services adminitratifs publiques Français!”. Disse uma senhora de bata que vinha de passagem de um laboratório, mal sabia ela como eram as coisas em Portugal. Eu tenho queda para bloquear tudo o que é programa informático, e ao que parece nem no estrangeiro me livro disso! Já contava quase 4 pessoas de volta do pc para me inscreverem. Depois veio a parte do pagamento (12,5 Eur), que tinha ser em cheque. Ao que parece, nas repartições francesas querem os pagamentos em cheque porque segundo eles “o dinheiro pode perder-se”. A Mme da secretaria muito simpática aceitou o meu “cash” e passou um cheque dela, e lá consegui ficar oficialmente inscrito na Universidade de Montpellier.
E assim, com a ajuda do mapa manhoso que o Prof. me deu dirigi-me ao pólo universitário europeu que poderia me poderia ajudar na busca de alojamento. E claro… este só abria ás 14:00, quando ainda nem meio-dia era… estava a perspectivar mais uma noite mal dormida na pousada da juventude.
Ensonado e cansado de tanto andar pelas ruas Montpellier, parei um pouco num cybercafé para ver o mail, e fazer tempo para a abertura do gabinete internacional do CROUS.
Finalmente são 13:00 e já posso ser atendido no CROUS! A simpática Mme Altée enquanto atendia dois turcos recém chegados, perguntou o que eu pretendia e verificou que o meu nome não lhe era estranho… Ser Casanova tem algumas vantagens!
Não é que eu tinha um quartinho só para mim na “cite universitaire” à minha espera, e na faculdade nenhuma das pessoas com que eu falei pôs essa hipótese! A Mme Altée ao telefonar para a faculdade, e falando com a pessoa CERTA, confirma a minha reserva e manda-me imediatamente de volta à faculdade buscar o meu processo (que a Mme Goldman nos dias de folga deixou com outra pessoa).
O vai e vem só terminou quando fui buscar as malas ao cacifo da pousada da juventude: mais umas estações de Tram, mais uns lanços de escadas a carregar as malas…e ao chegar à cité universitaire, carregar as malas para o meu quarto que fica num 3º andar!
Acabei o dia cheio de dores nos braços, nos ombros (carreguei o portátil durante todo o dia!) e nas pernas, mas ao menos sabia que iria dormir num quarto que já era o meu…

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

1ª Noite em Montpellier

Voila!
Finalmente tenho tempo para vos deixar uma mensagem que relate os meus primeiros dias aqui no Montpellier de France.Verdade que ainda n tenho fotos para vos mostrar, é que aquela coisa que normalmente nos esquecemos de por na mala... desta vez foram os cabos da maquina fotografica! Duh! .
Começando pelo avião... Meus amigos, logo no avião se sente falta da nossa bela comida! Na viagem Lisboa-Paris, deram-me uma sandes em forma de 1/4 de circulo, que pareceu-me ser de frango... e que pouca fome matou. Mas o pior foi Paris-Montpelier, aqui o moço esganado de fome ansiava pela refeicao que iria ser servida em pleno voo: "vous voulez des bisciuts sales ous sucres?". Eu optei pelos "sales"... um pacotinho muito peqenino de chips (que nao eram bem batata frita de pacote), com pequenas pepitas de azeitona incrustdas acompanhado por um misero copo de sumo de laranja!Nisto chego a Montpellier ás 22:15 sem ter jantado uma coisa decente.
Com uma mala do tamanho de um armario um troley de cabine e a mala do portatil, o Luisito ficou "seule" no aeroporto (toda a gente tinha alguem que os foi buscar) á espera da "Navete" que me levaria ao centro da cidade por 4,80€ apenas (vs os 37 Eur do taxi).Chegado ao centro da cidade (23:00), outra missão: apanhar o tram (metro de supreficie) até a pousada da juventude (reparem que ainda tenho as bagagens todas comigo!).
Na estação mais proxima da pousada, encontrei facilmente a rua que procurava, mas nao a pousada! Imaginem uma rua no centro medieval da cidade (assim meio escura), cheia de freaks a passear o cão ou a andar de skate, e eu com os meus dois troleys a procura da pousada. Quem me me indicou o edificio, foi um turco/libanes (um arabe desses lados...) que tinha um fast food de kebab aberto para a rua. Finalmente instalado (3 vaos de escada ate ao quarto, com as malas), por volta da meia noite fui jantar um kebab ao arabe que me ajudou no caminho e que dava uns toques de portugues (pousada é na 2ª á deretcha car***ho).
2º dia - Encontrar casa para me livrar da espelunca da pousada da juventude!Com esta vos deixo...